quinta-feira, 11 de março de 2010

Elomar Figueira


Aos 21 de dezembro de 1937, nasceu Elomar Figueira Mello, primogênito do casal Ernesto Santos Mello e D. Eurides Gusmão Figueira Mello.Enquanto seu pai se ausentava por períodos na lida de tanger boiadas, D. Eurides, ao som da velha máquina de costura, ganhava o pão, ao tempo em que embalava o frágil menino. Aos sete anos de idade, seus pais deixaram a vida urbana, transferindo-se para o campo, No São Joaquim, berço da 2" infância, cursou parte do primário escolar, completando este e o ginasial na cidade no ano de 1953. No ano seguinte, deixa o curral e os folguedos da vida pastoril, para ir cursar o científico no Palácio do Conde dos Arcos em Salvador. Em 1956, interrompe o curso e volta à terra natal para servir ao exército, passando a morar com sua avó paterna na mesma fazenda, vizinho bem próximo da velha casa onde nasceu. A partir dos dezoito anos, a casa de mãe Neném, sua avó, será sua morada toda vez que voltar de férias da capital. Esta preferência de habitação deve-se ao fato único de mãe Neném, em sendo católica apostólica, ter sido mais tolerante com o tipo de vida do moço poeta, de perfil boêmio. Em 1957, novamente em Salvador, conclui o científico. Em 1959, faz o vestibular para arquitetura. Conclui o curso em 1964, e regressa ao Sertão para, tendo a arquitetura como suporte econômico mínimo, escrever sua obra. Assim que ouviu os primeiros acordes de viola, violão e sanfona e as primeiras estrofes das tiranas dos côcos e parcelas dos três Zés(Zé Krau, Zé Guelê e Zé Serrado), têm início as primeiras fugidas de casa, pelas bocas-de-noite, não só para ouvir como também, para aprender os primeiros tons no braço do violão, o qual será, a partir dali, seu instrumento definitivo. Note-se bem que estas proezas davam-se às voltas e muito às escondidas, pois naquela época, tocador de violão, viola ou sanfona, era sinônimo de irresponsável. As primeiras composições datam dos onze anos. Em 1959-1960, começam a lhe chegar idéias de trabalhos maiores em envergadura e vai compondo aleatoriamente o ciclo das canções. Contudo, sempre preso à mesma temática, as vicissitudes do homem, seus sofrimentos, suas alegrias na terrível travessia que é a sua vida e, sobretudo, seu relacionamento com o Criador. Isto, é claro, a partir do seu elemento circunstancial, o Sertão, verdadeiramente, onde vive. Em 1966, casa-se com Adalmária, doutora em Direito, e filha da capital, contudo de orígem "sertaneza", da qual nascem Rosa Duprado, João Ernesto e João Omar. Enquanto muito trabalha à arquitetura menos vai compondo, sonhando com certa estabilidade econômica (que nunca chegou) para dedicar-se integralmente à música. Em 1969, sela o caderno da sua primeira ópera, o "Auto do Catingueira", mais tarde, parcialmente partiturada, face o caráter popular da obra. Durante a década de 70, projetou muito da arquitetura e um pouco mais na música. No começo dos anos 80 inicia a carreira de peregrino menestrel, de viola na mão, errante, de palco em palco pelos teatros do país, conquistando uma pequena platéia. A partir de 1984, ainda na fase das canções, começa a esboçar a seqüência das óperas e das antífonas. Atualmente, Figueira Mello já um pouco mais adiantado na estrada, aos seus 63 anos de idade, continua compondo intensamente, varando os dias e as noites sem descanso. No seu labutar, confessa que tem de escrever sem perda de tempo, pois que a obra é imensa e o tempo já declina pela tarde. Já deixou a Casa dos Carneiros, na Gameleira, onde demorou por um bom tempo de sua vida e donde saiu o grosso do ciclo das canções. Ali de volta, pretende concluir sua obra bem longe, bem distante dos mundos urbanos, pois que não só sua obra, como também sua própria pessoa, não é outra coisa senão antagônicos dissidentes irrecuperáveis de sua contemporaneidade tendo em vista sua formação estritamente clássica e regionalista. Assim, para Figueira Mello o que importa é concluir suas óperas, antífonas e galopes, pôr tudo em partituras a nanquim e enfardados em campa antiga, guardar o monobloco passageiro do tempo até a estação futura, bem-vinda quadra remota, onde o aguarda uma geração que, por justiça, haverá por certo de ouvir e amar sua música tão fora de moda nestes dias.
ZEFINHA
Ô Zefinha
O luar chegou meu bem
Vamos pela estrada que teu pai passou
Quando era criancinha igual você também
Ô Zefinha
essa é a terra de ninguém
Guarda na lembrança ela é a esperança
Dos filhos da terra
Que a terra não tem
Dos filhos da terra
Que a terra não tem
Nela o teu pai nasceu e se criou
E se Deus quiser
Um dia há de morrer também
E se Deus quiser
Um dia há de morrer também
Ôôôô... Zefinha
Ouve o seu pai meu bem
Ama essa terra que nosso Sinhô
Um dia batizô a terra de ninguém
Ôôôô... Zefinha
Veja quantos ranchos tem
Nessa terra os homi planta, colhi e comi
Louvando Jesus na terra de ninguém
Louvando Jesus na terra de ninguém

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